Segundo a lenda, o monge budista
Bodhidharma viajou para a província de Hunan na China, por volta de 500 A.C.,
passando 9 anos no templo Shaolin, onde começou a explicar diferentes técnicas
de respiração e exercícios físicos aos monges desse mesmo templo. Ele também
lhes ensinou como deviam proceder para desenvolverem a sua força espiritual e
mental, para que lhes fosse então possível superar os exigentes exercícios de
meditação. Os ensinamentos de Bodhidharma são tidos como as origens do Kempo
chinês.
Quando o Kempo se espalhou pela China foi dividido em 2 estilos
principais, o do Norte e o do Sul. O estilo do Norte era caracterizado por
técnicas fortes e rectas, enquanto que o do Sul se distinguia pelas técnicas
mais circulares e suaves. As técnicas do Kempo eram valiosamente preservadas em
segredo pelas famílias ao longo das gerações.
Durante o XIV século o Kempo é introduzido em Okinawa, ilha situada no
Sul do arquipélago do Japão, ganhando cada vez mais popularidade e, sendo então
praticado como uma arte de defesa pessoal, segundo o nome de "Tote" (mão
chinesa).
Em Okinawa a arte nativa de combate "Te" já era há muito praticada,
mesmo antes da introdução do Kempo e, crê-se que o "Te" fora combinado com o
Kempo evoluindo assim para o "Karate".
Quando o Japão invade Okinawa em 1609, a proibição de posse de arma
(imposta pelo Rei Sho Shin em 1477) fez-se manter de igual forma, mas desta vez
os Japoneses baniram também a prática das artes marciais.
Consequentemente, as pessoas de Okinawa viram-se obrigadas a continuar
com as artes marciais em segredo. Durante os próximos 3 séculos a arte marcial
evoluiu eficazmente e foi então chamada de "Okinawa-Te", sendo posteriormente
dividida em 3 estilos principais: Shuri-Te influenciado pelas duras técnicas do
Kempo e caracterizado por uma atitude ofensiva.
O Naha-Te influenciado pelas técnicas mais suaves do Kempo, incluindo o
controlo da respiração e "Ki". Era caracterizado por uma atitude mais defensiva
com pegas, projecções e técnicas de chaves.
E por fim o Tomari-Te influenciado igualmente pelas técnicas duras e
suaves do Kempo.
Naha, Shuri e Tomari eram na época as 3 principais cidades de Okinawa.
No final do século XIX o Shuri-Te e Tomari-Te foram fundidos sob o nome
de Shorin-Ryu, que ao longo do tempo evoluiu para estilos ligeiramente
diferentes. O Naha-Te manteve-se basicamente unificado, vindo mais tarde a ser
conhecido como Goju-Ryu. . : Topo : .
Sensei Kanryo Higaonna nasceu na cidade de Naha em 10 de Março
de 1853 e morreu em 1915.
Em 1867 seu pai morreu numa luta sendo as causas pouco claras o que foi
um grande abalo para toda a família. Depressa o desespero se tornou em raiva e
consequentemente num desejo de vingança por parte de Kanryo Higaonna.
Kanryo não estava certo de como iria
obter isso, mas as histórias que ele tinha ouvido até então das artes de
combate do Sul da China não largavam a sua mente e assim decidiu viajar para a
China para poder aprender essas poderosas artes e depois regressar a Okinawa
para então vingar a morte de seu pai.
Por volta de 1868 viaja então para Fuzhou, na China.
Naqueles tempos era muito difícil ser-se aceite como aluno em qualquer
arte marcial. Mas o 1º passo era no entanto ser-se formalmente apresentado a
alguém que o pudesse "guiar" convenientemente e, é assim que Kanryo Higaonna é
apresentado ao grande mestre Ryu Ryu Ko, que acaba por o aceitar como aluno.
No entanto antes do seu treino poder começar realmente, foi necessário
jurar lealdade e aderência à filosofia, princípios e regras do seu professor. A
partir dessa data Kanryo Higaonna todos os dias se dirigia à casa de Ryu Ryu Ko
para depois o ajudar no seu trabalho. Kanryo trabalhava com diligência e
tenacidade e cedo Ryu Ryu Ko começou a confiar nele. Foi só então que ele o
começou a instruir nas artes marciais.
Certo dia quando Ryu Ryu Ko e Kanryo Higaonna estavam a trabalhar foram
interpelados por um jovem que tinha ouvido falar da força fenomenal deste
professor e decidiu desafiá-lo tendo assim o jovem pegado numa cana de bambu e
esmagando-a em seguida com uma pega poderosa. O jovem Kanryo nunca havia
testemunhado um feito daquela natureza e estava estupefacto. Ele parou de
trabalhar e olhou para o seu professor pensando qual seria a sua reacção, mas
Ryu Ryu Ko nada disse. Silenciosamente pegou numa peça de bambu e segurando-a
com ambas as mãos, puxou-a, desfazendo-a. O jovem desafiador apercebendo-se de
que tinha sido completamente derrotado, retirou-se em silêncio.
Com o passar do tempo a relação entre professor e aluno foi sendo cada
vez mais estreita, até que Kanryo era como que um filho para Ryu Ryu Ko.
Por vezes Kanryo praticava não mais que Sanchin e hojo undo (instrumentos
suplementares de treino) durante dias seguidos para agradar ao seu mestre. A
instrução de Ryu Ryu Ko era extremamente severa, principalmente o shime (teste
realizado durante a kata Sanchin para testar a concentração e postura do
aluno). Hoje é-nos difícil sequer imaginar a exigência deste tipo de treino.O
treino de Kanryo incluía regularmente, por exemplo, ude tanren (condicionamento
dos braços), uke harai (treino de defesas), kakie e havia também ne waza
(técnicas no chão), que requeriam um parceiro e um largo barril de madeira. Os
dois alunos, nus da cinta para cima, praticavam numerosas técnicas, como
estrangulamentos e chaves nas articulações enquanto estavam deitados no
confinado espaço do barril.
Hojo undo fazia também parte do seu treino para fortalecer todo o seu
corpo: os nigiri game (jarros com areia ou água) para fortalecer as suas pegas;
os chiishi (espécie de haltere com peso só num lado) para fortalecer pulsos e
braços; e muitos outros como os ishi sashi; kongoken; tan; etc.
Durante os 5 ou 6 primeiros anos Kanryo apenas aprendeu uma kata, mas
depois de ter ganho a confiança do seu mestre, a sua instrução foi expandida e
incluiu todo o sistema: Sanchin, Saifa, Seyunchin, Shisochin, Sanseru, Sepai,
Kururunfa, Sesan e Suparinpei. Em adição ao treino de "mãos vazias", também
estudou armas, incluindo espada longa e curta, o bo e outras. Ryu Ryu Ko também
lhe ensinou medicina natural.
Conta-se o seguinte acerca de Kanryo Higaonna:
"Em Fuzhou, guardando cada entrada da ponte Manju estão 2 leões de pedra.
Qualquer um que se atrevesse a sentar nas costas de um dos leões ou era um
praticante de artes marciais ou um forte lutador que se queria testar em
combate. Sentar-se num leão era um desafio aberto a qualquer um que passasse.
Kanryo Higaonna ouviu falar deste costume e decidiu testar-se a si próprio. Foi
então para a ponte Manju e esperou pacientemente, sentado num dos leões, mas
nenhum desafiador se apresentou perante ele. Aqueles que passavam perto, tanto
pessoas normais como praticantes de artes marciais, ao verem o olhar penetrante
de Kanryo continuavam o seu caminho sem pronunciar qualquer palavra."
Este relato pode ter tanto de lenda como de história, mas mesmo aqui está
uma indicação da fama que Kanryo Higaonna possuía entre as pessoas.
Outro relato acerca das capacidades de Kanryo é o seguinte:
"Numa ocasião depois de treinar, Kanryo estava à beira rio tomando a
frescura da água quando subitamente, tendo sentido algo, instintivamente saltou
para o lado. Estupefacto, viu um aluno a voar a seu lado indo cair no rio. Após
ter saído do rio o aluno disse a Kanryo que o queria testar empurrando-o para o
rio."
Kanryo não sabia exactamente o porquê de se ter desviado naquele momento,
mas os instintos agudos daqueles que se treinam intensivamente nas artes
marciais são vastas vezes referidos e documentados.
Kanryo Higaonna passou aproximadamente 14 anos na China, até que o seu
mestre lhe disse que era tempo de voltar à sua terra natal. Por volta de 1881
voltou então a Okinawa, trazendo consigo as 9 katas, os métodos de treino,
técnicas com armas e medicina natural que aprendeu ao longo dos muitos anos com
Ryu Ryu Ko.
De volta a Okinawa, continuou a sua prática das artes marciais, mas
sozinho; Kanryo Higaonna não ensinava a ninguém. A polícia frequentemente lhe
pedia ajuda para capturar criminosos extremamente perigosos. Enfrentando o seu
adversário, a sua técnica preferida era um pontapé rápido como um relâmpago que
deixava o homem atordoado estendido no chão. As pessoas de Okinawa chegaram-lhe
a chamar "Ashi no Higaonna" (Pernas Higaonna).
Kanryo Higaonna ao voltar a Okinawa facilmente arranjou trabalho na
marinha mercante, tal era a prática que havia adquirido previamente ao serviço
de seu pai mas, os tufões que assolaram por várias vezes Kanryo Higaonna
causaram-lhe a perda por duas vezes de toda a carga, e dessa forma sem poder
pagar as dívidas Kanryo Higaonna experimentou tempos de extrema privação e
sacrifício. Isto levou-o eventualmente a deixar este tipo de vida e iniciou
assim o ensino das artes marciais.
Kanryo começou a ensinar em sua casa, e embora ele estivesse agora
aceitando alunos, a exigência da sua instrução fazia com que muitos desses
novos alunos depressa desistissem. No seu dia-a-dia Kanryo Higaonna era um
homem sossegado e gentil. Mas diz-se no entanto, que o seu comportamento mudava
completamente durante o treino, os seus olhos tornavam-se tão aguçados e
penetrantes como os de uma águia. Os alunos muitas vezes se sentiam com medo de
estar à sua beira.
Foi em Abril de 1901, numa escola na cidade de Shuri, que o Karate foi
pela primeira vez integrado no sistema de ensino de Okinawa. Para lidar
eficazmente com classes grandes o método de ensino teve que ser mudado
drasticamente. Até esse tempo o Karate tinha sido ensinado em segredo, mas com
a sua introdução no sistema de ensino, estava agora disponível para a sociedade
em geral e, a seu tempo vinha a ser reconhecido pelo seu valor educacional e
moral.
Quando Kanryo Higaonna ensinava em sua casa, ele ensinava Naha-Te
(Naha-Te era a arte marcial praticada na cidade de Naha, traduzido à letra fica
a "mão=Te de Naha") como sendo uma arte marcial cujo objectivo era matar o
adversário. Em contraste, os seus ensinamentos para as grandes classes tinham o
propósito de transmitir o Karate como sendo uma forma de educação física,
intelectual e moral.
Muitos foram os alunos de Kanryo Higaonna, mas muitos foram também os que
assim queriam e não conseguiram. Kanryo Higaonna seleccionava os seus alunos
muito cuidadosamente e prova disso é o seguinte. Okinawa sendo uma pequena ilha
não tem muitas fontes de água fresca. Beber água sempre foi uma comodidade
preciosa a ser protegida e conservada. Nessa época havia uma nascente
subterrânea de onde os comerciantes de água se abasteciam para depois poderem
comercializar esta carga tão valiosa. Um dia descobriu-se que um dos alunos de
Kanryo Higaonna tinha estado a tomar banho nessas águas, água essa que era
vital para a população de Okinawa. Devido a esta inaceitável demonstração de
carácter, Kanryo imediatamente expulsou o seu aluno.
Muito aqui já foi dito mas, muito mais fica por dizer acerca desta tão
nobre personagem. Mas é certo que tal dedicação, empenho, preserverança e
distinção já não são comuns nos nossos dias.
Kanryo Higaonna é honrado como o fundador do Karate de Okinawa.
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Chojun Miyagi, que sucedeu Kanryo Higaonna como mestre de Naha-Te, nasceu em
Okinawa em 25 de Abril de 1888, no seio de uma família abastada cujo sustento
eram as trocas comerciais com a China, e morre em 8 de Outubro de 1953 vítima
de doença súbita.
Após a morte do seu tio, Chojun Miyagi
com apenas cinco anos fora escolhido para ser o futuro chefe de família e assim
foi levado para casa da sua tia, que perante tal responsabilidade achou que
seria benéfico que Chojun ganhasse força física e espiritual para assim poder
vingar nos tempos difíceis que se faziam sentir.
Em adição ao desespero social e político, doenças e pobreza eram também muito
comuns e foi neste clima que a sua "mãe adoptiva" procurou um mestre de Karate
que pudesse incutir no seu "filho" coragem, força e sentido de justiça.
Chojun Miyagi tinha 11 anos quando foi levado a conhecer Ryuko Aragaki
(1875-1961), cuja arte era o Tomari-Te. Ryuko Aragaki era um mestre de renome
que recentemente tinha derrotado o reconhecido Saru (Choki) Motobu. Mas Ryuko
Aragaki cedo se apercebeu do potencial do seu aluno e, assim o apresentou a um
mestre cujo karate não tivesse comparação, esse mestre era Kanryo Higaonna e
para Ryuko Aragaki esse seria o único capaz de acompanhar devidamente Chojun
Miyagi, tal era a sua sede de conhecimento! E assim aos 14 anos (1902) Chojun
Miyagi foi apresentado ao Bushi (nobre guerreiro) Kanryo Higaonna que o aceitou
como seu aluno. Embora o Sensei Aragaki tivesse avisado Miyagi da severidade da
instrução do Sensei Higaonna, o treino excedeu largamente tudo o que Miyagi
tinha imaginado até então, tendo ele pensado em desistir mais do que uma vez.
Enquanto miúdo, Chojun detestava perder fosse no que fosse. Se fosse derrotado
por um rapaz mais velho numa briga, por exemplo, ele desafiaria novamente esse
rapaz na primeira oportunidade que tivesse. Pais avisavam constantemente os
seus filhos para não se meterem com Miyagi. Mas assim que começou a crescer e a
treinar sob a tutela do Sensei Kanryo Higaonna, esta faceta do seu carácter
mudou e ele tornou-se mais sossegado e de melhor feitio.
Muitos jovens desejando serem alunos de Kanryo Higaonna eram a ele
apresentados, mas antes de dar permissão para isso, ele iria primeiro observar
o carácter de cada um cuidadosamente. De início eram-lhes dadas tarefas para
realizar como por exemplo cuidar do jardim ou limpar a casa. Estas tarefas eram
executadas numa rotina diária e muitos eram os que desistiam.
Chojun Miyagi realizava com afinco as suas tarefas; a sua educação tinha
sido severa e ele estava habituado a este tipo de trabalho. De início ele não
estava muito preocupado em ter o karate como uma pesquisa para a vida, mas sim
em simplesmente o desfrutar.
Após se ter graduado na "Naha Jinjo Koto Shogakko (escola básica), entrou na
"Kenritsu Dai Ichi Chugakko" (agora conhecida como a Escola Superior de Shuri),
e a sua paixão pelo karate continuava a crescer.
A sua dedicação ao treino era tremenda. Mesmo o seu percurso diário para
a escola, perto do Castelo de Shuri, e de volta a casa se tornara um circuito
de treino. Chojun Miyagi corria assim uma autêntica "maratona" até chegar à
escola, ultrapassando montes, rios, etc. E assim ganhou uma incrível força nas
pernas e uma resistência sem igual. Enquanto Chojun ia e vinha da escola
correndo, era o seu amigo Kyuichi Tokuda que lhe fazia o favor de transportar
os livros. No regresso da escola, Miyagi ia para a praia perto de sua casa e
exercitava-se levantando grandes pedras, arrastando-as de um lado para o outro
até que a sua força e técnica as permitissem erguer e, assim avançava para
pedras mais pesadas para incrementar a sua força e poder. Diz-se que Chojun
Miyagi era capaz de erguer pedras com cerca de 100 kg. Para se desafiar ainda
mais além, Chojun dirigia-se para a doca em Naha e aí amarrava uma ponta de uma
corda em volta dos troncos que por ali estavam e a outra ponta amarrava-a a
volta do pescoço e assim em hachiji-dachi fazia agachamentos. Também
regularmente Miyagi erguia pesados sacos de arroz com os seus dentes!
Foi através deste tipo de treino que Chojun Miyagi desenvolveu uma força
considerável por todo o seu corpo, que o ajudaria a fazer rápidos progressos na
kata Sanchin. Depois da escola, por volta das 15h ou 16h ele ia para a praia ou
doca fazer este tipo de treino, e depois quando começava a entardecer
dirigia-se para casa de Kanryo Higaonna para praticar karate. Chojun Miyagi era
um atleta natural. Tanto na escola como no exército ele se excedia em qualquer
desporto que praticasse. A combinação deste espírito determinado com uma
formidável forma física foi o que lhe permitiu rapidamente progredir no karate.
Chojun Miyagi experimentou praticar judo mas foi forçado a parar pouco após ter
começado. Uma vez enquanto praticavam "ne waza" (técnicas de luta no chão), o
seu professor de judo fez uma chave ao pescoço do jovem Miyagi que respondendo
por puro reflexo golpeou uma área vital fazendo com que o professor
instantaneamente largasse a pega. O professor informou-o que já não era
necessário vir mais treinar. Chojun Miyagi também adorava praticar Sumo, sendo
seu preferido o estilo de Okinawa que apresentava algumas diferenças do
Japonês.
Chojun Miyagi apesar de não se ter graduado na escola superior, era
também um ávido leitor e estudava com uma regularidade diária.
Nos primeiros tempos Sensei Higaonna ensinou a kata Sanchin exactamente
como a tinha aprendido de Ryu Ryu Ko. A respiração era rápida e os movimentos
das mãos eram feitos em nukite (mão em forma de lança), em vez de serem feitos
com o punho fechado como é hoje praticado.
A razão pela qual se adoptou fazer a kata com o punho fechado não é bem
certa, mas em Okinawa socar a makiwara era natural e, o uso do punho fechado
era já um hábito de há muitos séculos atrás. A adopção de Kanryo Higaonna do
punho fechado esteve muito relacionada com o facto de ter ensinado na escola
Comercial, onde o objectivo ultimo mudara do aspecto marcial do karate para o
desenvolvimento do espírito humano. Com a adopção do punho fechado a respiração
foi abrandada, aumentando assim a força física e a saúde.
O treino da Sanchin sob a tutela de Kanryo Higaonna era muito severo,
indescritível, por vezes fazendo Miyagi quase chegar ao ponto de perder os
sentidos, desmaiando mesmo por duas vezes sendo reanimado com um balde de água
fria. Um relato pormenorizado do sucedido se segue:
Enquanto jovem Chojun sempre procurou maneiras de se testar. Ele não era
de se meter em brigas, mas se a oportunidade surgisse, ele certamente seria
capaz de uma resposta à altura. E foi assim que por volta dos seus 18 ou 19
anos se viu envolvido numa disputa com 5 ou 6 trabalhadores da doca. Esta
disputa rapidamente evoluiu para uma luta, acabando Miyagi por os derrotar a
todos, um facto testemunhado por Kan, filho adoptado de Sensei Kanryo, cuja
barbearia era localizada nas redondezas. Na noite seguinte Miyagi dirigiu-se a
casa do seu professor para treinar como de costume. Antes do treino começar,
Kanryo reuniu todos os alunos e disse: "Ouvi recentemente que um dos meus
alunos é um forte lutador", e logo num tom acutilante avisou os seus alunos
"Nunca devem lutar". Claro que Sensei Kanryo sabia que tinha sido Miyagi quem
tinha estado a lutar, mas preferiu lançar este aviso de uma maneira indirecta
para todo o grupo.
O treino dessa noite foi mais tortuoso que nunca. A kata Sanchin e hojo
undo foram feitos vezes sem conta, levando os seus alunos aos limites da
resistência física. Foi durante esta sessão que Miyagi perdeu a consciência.
Foi com o tempo que gradualmente Chojun Miyagi se tornou mais íntimo de
Kanryo Higaonna, e assim se tornou seu Uchi Deshi (aluno preferido). O treino
normal durava cerca de 2h, a seguir às quais Kanryo pedia a Chojun para
permanecer no dojo para que pudesse continuar a ensiná-lo individualmente.
Chojun Miyagi fora assim escolhido para aprender todo o sistema do Naha-Te.
Chojun Miyagi posteriormente desenvolveria as katas Gekisai Dai
Ichi, Gekisai Dai Ni e Tensho e modificaria a kata Sanchin que lhe fora
ensinada pelo Sensei Kanryo Higaonna. Desenvolveu também um conjunto de
exercícios, denominado junbi undo (exercícios preliminares),
concebidos com uma precisão científica e com fundamentos médicos. A intenção
destes exercícios é proporcionar o desenvolvimento da técnica enquanto que ao
mesmo tempo prepara o aluno para a prática de kata. .
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No dia 5 de Maio de 1930, para celebrar a coroação do príncipe
Hirohito foi realizada uma demonstração de artes marciais, para a qual Chojun
Miyagi foi também convidado. Chojun Miyagi enviou para essa demonstração o seu
melhor aluno, Jin'an Shinzato. Este seu aluno morreu tragicamente na 2ª Guerra
Mundial com um rebentamento de uma bomba à entrada da gruta onde se abrigava.
Depois de ter realizado a kata Sanchin e Sesan, um dos
participantes na demonstração perguntou a Shinzato o nome do seu estilo,
pergunta para a qual Shinzato não tinha resposta, visto que os estilos eram
conhecidos pela zona geográfica onde eram maioritariamente treinados, como por
exemplo: Naha-Te, Shuri-Te e Tomari-Te, sendo Naha, Shuri e Tomari 3 das
principais cidades da altura em Okinawa.
No seu regresso a Okinawa relatou o incidente ao Sensei Chojun
Miyagi que se apercebeu que seria importante dar um nome formal ao seu estilo,
se queria que a sua arte fosse reconhecida e respeitada pelos Japoneses como
uma arte comparavel ao judo e ao kendo, que experimentavam grande ascenção na
época.
E foi assim que Chojun Miyagi extraíu a ideia de Goju-Ryu, para o
nome do seu estilo, de uma obra literária chamada Bubishi. Nesta obra
existem oito poemas sobre as artes marciais (Kenpo Haku), e na
terceira linha de um deles lê-se "Ho go ju donto" (fazendo referência
a como a respiração deve ser dura e suave).
Tendo em conta a natureza do estilo de Chojun Miyagi, um estilo
contendo técnicas duras e suaves e dando ênfase à respiração, Goju parecia ser
o nome ideal, significando Ryu estilo/escola.
O Goju-Ryu foi o primeiro estilo de karate a ter um nome e a ser
registado e, foi assim que viria a ser reconhecido, em Abril de 1933, pela Dai
Nihon Butokukai, orgão criado para o reconhecimento e preservação das artes
marciais tradicionais japonesas, onde no ano seguinte Chojun Miyagi aceitaria
um posto na direcção vigente e também seria o chefe do departamento de karate
no ramo da Butokukai em Okinawa. Em 1934, Miyagi recebeu do departamento de
educação física do Ministério da Educação uma recomendação pelos seus
excelentes trabalhos e desenvolvimentos, no campo da educação física.
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O Sensei An'ichi Miyagi nasceu a 9 de Fevereiro de 1931, em Naha, e faleceu em 28 de Abril de 2009.
Aos 14 anos, perdeu os pais na guerra, e teve de se
providenciar para tomar conta dos seus dois irmãos mais novos, arranjando
emprego na base militar de Kadena.
An'ichi Miyagi começou a treinar com três amigos no dojo jardim do
fundador do Goju-Ryu, o Sensei Chojun Miyagi, em Fevereiro de 1948,
com 17 anos de idade. Passado um ano, os três amigos que tinham começado a
treinar com An'ichi Miyagi haviam já desistido. An'ichi continuou. Era tal a
sua dedicação ao treino e ao seu professor, que este começou a confiar
verdadeiramente nele. Isto reflectia-se nos seus ensinamentos que se tornaram
mais detalhados e profundos. Ensinou-lhe a kata com grande detalhe, desde a
Gekisai Dai Ichi à Suparinpei e explicou-lhe o bunkai extensivamente, tinham
também longas conversas sobre filosofia, artes marciais, sociedade...
Ele pretendia transmitir o Gokui (ensinamentos essenciais)
do Goju-Ryu ao seu aluno e para a nova geração, e fê-lo mesmo até à noite da
sua morte.
O Sensei An'ichi Miyagi treinou até perto da sua morte e sempre teve um aluno a quem se dedicou a transmitir a verdadeira essência do
Goju-Ryu. Esse aluno foi Morio Higaonna. . : Topo
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O Sensei Morio Higaonna nasceu a 25 de Dezembro de 1938 na cidade
de Naha. A sua família tinha saído do sul do Japão antes da evasão americana em
1945, e regressaram pouco depois da guerra acabar.
Iniciou o seu treino aos 14 anos com o seu pai, um polícia,
praticando Shorin-Ryu. Aos 15 anos, começou a treinar com um amigo, Tsunetaka
Shimabukuro, que ensinava Shorin-Ryu no clube de karate da escola de
frequentava. O Sensei Shimabukuro treinou também Goju-Ryu com o Sensei Chojun
Miyagi durante dois anos.
Sensei Shimabukuro comentou com o Sensei Morio Higaonna sobre a
extrema potência do sistema Goju-Ryu e encorajou-o a experimentar.
O Sensei Morio Higaonna começou o seu treino de Goju-Ryu no dojo
jardim do Sensei Chojun Miyagi em Abril de 1955 com 16 anos, através do Sensei
An'ichi Miyagi. Em Agosto de 1957 o dojo jardim do Sensei Chojun Miyagi passou
para um edifício chamado "Jundokan", onde treinou com o Sensei An'ichi Miyagi e
o Sensei Eiichi Miyazato.
Em 1960, com 21 anos, mudou-se para Tóquio para estudar Comércio na Universidade de Takushoku e foi
convidado para ensinar karate no dojo Yoyogi, onde ensinou durante 15 anos
regressando a Okinawa após essa estadia.
Em 1979 criou a International Okinawan Goju-Ryu Karate Federation
(IOGKF) com o apoio e reconhecimento, entre outros, do filho do Sensei Chojun
Miyagi, Ken Miyagi e, está agora difundida praticamente em todo o Mundo.
É verdadeiramente impressionante ver esta lenda viva das artes
marciais em acção e é notória a sua dedicação às artes marciais e em especial
ao karate Goju-Ryu.
O Sensei Morio Higaonna já escreveu diversos livros sobre o karate
Goju-Ryu, "Traditional Karate" Volumes 1-4, "The History of Karate Goju Ryu" e,
gravou também várias cassetes de video e DVD abordando todo o sistema Goju-Ryu,
"Power Training", "Goju Ryu Karate Kata" e "Goju Technical Series" - Volumes
1-6. . : Topo : .